Começo do fim...
Saio de casa apressado. Antes checo para ver se está tudo bem. Não havia o que temer. Dispensei a moto. Pego a rodovia Castello Branco sentido a cidade de Araçariguama/SP. Era uma boa entrevista de emprego.
Passando do pedágio, escuto um estouro e algo caindo. Só que a pressa imperava. Pensei em parar, mas a pressa me impediu.
Vejo a temperatura da água subindo drasticamente. Ignoro, continuo pisando o pé. Vinte quilômetros depois, vejo fumaça e o carro perdendo força. Estava próximo ao meu destino. Penso: Fudeu! Parei no acostamento. Motor fervendo. Tento dar partida. Com muito custo, consigo. Ando mais dois quilômetros. Paro num posto. Pergunto ao frentista: "Onde tem um ponto de taxi por aqui?"..."O carro ferveu". O frentista aponta e vou caminhando até lá. Pego o taxi. Já estava uma hora e meia atrasado para a entrevista. Cheguei lá arrasado. Saio de lá mais arrasado ainda, prevendo o grande prejuízo. Já tinha previsto que a vaga não seria mais minha....pelo atraso...Volto ao posto. O carro continua sem pegar. Pergunto sobre um mecânico. O mesmo diz que fica no final de uma descida. Empurro o carro na banguela, até a oficina. Chegando lá, após algumas verificações, o mecânico dá o possível veredito: cabeçote. Iria ficar $600,00. Pensei, pensei e decidi levar ao mecânico, até então, de minha confiança. Pô, o cara tinha feito o motor...
Chamo o guincho. Pago $100 pela desmontagem do mecânico, $250,00 pelo transporte. Chego no carro, com cabeçote desmontado.
Ele desce o carro e diz que vai verificar. Entre tudo o que tinha que fazer (cabeçote e radiador, dentre outros...), ficou em $1100,00. Mandei fazer. Já estava fudido mesmo...
Alguns dias depois pego o carro. Pensei que estava tudo bem...vim para a minha casa, deixei o carro lá. Na véspera de Natal, saí com ele, para buscar a criançada em Cotia/SP. Eram só 65km....ia ser de boa. No meio do caminho, vejo a luz do óleo acender. Pensei: deve ser o fio do sensor de óleo que deve ter soltado. Alguns km depois, ouço um barulho parecendo um liquidificador. Paro o carro. No acostamento, nada anormal, aparentemente. Ligo para o mecânico. Ele estava em Campinas/SP. E eu, na estrada. Ele me orienta a chamar o guincho. Obedeço: $50,00 sem choro...
Um dia após o Natal, vem o diagnóstico: a peneira da bomba de óleo estava entupida com algo parecido com uma peça de plástico derretida. Impediu a passagem de óleo e o motor travou. Motor refeito, trocou biela, bronzina e a conta $986,00.
O estrago...
Segundo ele, essa peça plástica que envolve o defletor do filtro derreteu e acabou entupindo a passagem do óleo.
Disse a ele que não era justo, pois trouxe o motor desmontado para ele ver. Ele disse que só tinha feito a parte de cima. Vi que o negócio não ia terminar bem. Peguei o carro e deixei um cheque de $450,00 na mesa dele. Isso porque ele trabalhou durante 20 anos para a minha família e não queria confusão pro meu pai.
Desse último evento, para cá, perdi o tesão no carro. Coloquei para vender umas duas vezes. Choveu gente querendo comprar. Desisti. Voltei a anunciar. Fui numa feira de carros, na minha cidade e apareceu algumas pessoas.
Fotos dele na feira...
Vi gente a torcer o bico pelo vinil no capô, vi gente querendo oferecer $3mil...não aceitei e bati o pé.
Mas o preço ainda não compensava. Nenhum compensaria, na verdade.
Foi aí que um senhor de Vitória da Conquista/BA se interessou no carro. Depois de muita negociação, ele aceitou comprar o bandidão. Depositou $2000,00 na minha conta e o restante quando pegasse o carro, na minha cidade, em Sorocaba/SP. Aceitei. O bandidão, tecnicamente, não era mais meu. Fiquei vários dias sem ir na garagem. Tive que aprender a me desapegar.
Até que chegou o dia da despedida. Fui até um bairro, do outro lado da cidade, onde moro, deixar ele. O filho do senhor, que havia comprado, me recebeu, testou o carro e me pagou. Entreguei os documentos e fui embora.
Esta é a última vez que vi o meu antigo Logus "bandidão"...
Dias depois, fui ao cartório assinar o documento de transferência (CRV). O senhor estava lá, me cumprimentou, muito gente fina. Disse que gostou do carro e elogiou a minha honestidade. Após tudo assinado, me deu uma garrafa de aguardente e um cd de presente (rsrsrsrs).
Desde então, não tive mais notícias do bandidão. Ele disse que ia dar um banho de tinta, assim que chegasse em Vitória. Disse a ele que tinha um histórico de tudo o que fiz no carro. E por esta razão, restaurei o tópico dele e para lembrar do tempo que o tinha como um filho. Ou mais que isso.
Abrz,